
Escrito por um cavalheiro que esteve por treze anos entre os Separatistas para fazer Observações, e agora retornou para casa com a plena intenção de expor todo o Mistério da iniquidade, ao desvelar a Prostituta, para que os homens não mais possam beber do vinho de suas Fornicações; ele jurou o celibato e dedicou-se plenamente aos exercícios da mente. E aqui ele descreveu o espírito do Quakerismo.1. Ser um Puritano estrito. 2. Um Anabatista. 3. Um Seeker. 4. Um Ranter. 5. Um Quaker, e, por que não, todas as coisas, e nada. Pelo qual caráter, todo Homem pode, em alguma medida, ver o engano de sua própria imaginação e ser cuidadoso, e devidamente atento consigo mesmo.Anti-Quakerism, p. única
[…] para alcançar qualquer conclusão definitiva na questão, seria necessário para nós suplementar nosso conhecimento deste evento a partir de outras fontes. Felizmente, para nossos propósitos, existem diversas referências à restauração da imersão pelos Anabatistas Ingleses na literatura impressa precedente a 1700. Desses relatos, os que seguem são os mais importantes que eu me lembro de ter visto. Em primeiro lugar, podemos citar o autor de ‘Anti-Quakerism […]’Restoration of Immersion, p. 72

Then he turned Anabaptist.
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The Original of the Anabaptists.
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He turned Seeker and Ranter.
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He turned Quaker, and nothing.
Há duas interpretações para a narrativa de Younge, que pode bem ter convivido, como alega, entre os separatistas (o termo “ordenança”, usado por ele com frequência, não seria comum entre reformados pedobatistas, nem à igreja oficial). A história pode acompanhar um único homem que teria, hipoteticamente, em peregrinação espiritual, buscado a verdade em diversas searas e redundado, ao mesmo tempo, no ser e no nada; ou a história pode descrever “o espírito” que conduziu ao quakerismo. Seja como for, Younge não está fazendo uma abordagem histórica, mas poética e conceitual do separatismo.
Entretanto, e curiosamente, ao falar do batismo Younge faz uma incursão atipicamente histórica. Transcrevo, em prosa, os versos de Younge a respeito do batismo.
Então vocês, juntos, tomaram para si / edificar a casa de Cristo sobre a Areia, / e vocês ainda querem a pedra angular, / quero dizer, Jesus, que somente é Cristo. | Suas Palavras vocês sabem que prometeram [observar], / e lá vocês encontraram a palavra batizar, / vocês disseram que seu significado deve ser / necessariamente o significado de água, Batismo. | Então vocês fantasiaram e lançaram sua preocupação / toda por um Administrador, / mas aqui na Inglaterra nenhum foi visto, / que empregasse qualquer coisa senão a aspersão. | Largamente vocês ouviram homens dizer, / que havia Santos na Silésia, / que desde o tempo dos Apóstolos, / mantiveram essa Ordenança pura, divina. | Para lá, infelizmente, vocês enviaram rapidamente, / e assim perderam algum tesouro, / mas quando seus mensageiros chegaram lá, / eles foram enganados, como somos nós aqui. | Mas isto lhe disseram de boa fé, / que do batismo careciam eles, / e por uma solução agora, / com orações eles clamaram ao Céu. | Então eles, em consentimento conjunto, / fizeram aquilo de que agora vocês se arrependem, / autorizaram um deles a batizar, / assim, esse excelente engano eles aventaram. |
Eles disseram que assim vocês deveriam fazer, / e Deus concordaria, eles sabiam, / e vocês o seu conselho simplesmente acataram, / porque Batizar estava escrito no Livro. |
E assim, amplamente vocês mesmos batizaram, / até que uma outra seita foi formada, / vocês dirão agora que as Ordenanças estão em baixa, / Deus não as aceita, vocês o sabem. |
Então vocês praticamente abandonaram as Assembleias, / tendo aprendido suas lições sem livro, / e por um tempo vocês estiveram dormentes, / até que discernissem a estrela da manhã.
(Anti-Quakerism)
Na versão de Younge, os batistas teriam enviado mensageiros até a Silésia (região entre a Alemanha, Polônia e República Tcheca), pois teriam ouvido que ali permanecera a tradição primitiva, e portanto pura, da ministração do batismo. É provável que os primeiros anabatistas imersionistas que apareceram na Suíça, ainda no século XVI, tenham sofrido influência de grupos religiosos da Silésia. Segundo Younge, os mensageiros teriam sido enganados por não terem encontrado alguém que tivesse sido batizado por imersão segundo uma linha sucessória apostólica, mas encontraram homens que se mostraram solidários ao propósito e encorajaram os mensageiros a se batizarem por imersão.
Aqui entra o drama mais corrente de todos os documentos sobre o imersionismo. A frase original “And thus at lenght you your selves baptiz’d” não é idêntica à “And thus at lenght you baptiz’d your selves”. Fosse a segunda construção utilizada, ficaria claro que, para Younge, os mensageiros se batizaram e seguiram batizando outros. Como foi construído o poema, é impossível saber se eles batizaram a si mesmos, se um batizou o outro, e onde isso aconteceu – na Silésia ou de volta na Inglaterra.
Também não é fácil saber se Younge tem em mente mensageiros históricos de que tem conhecimento específico, ou mesmo se ele sabia dos nomes de correspondentes batistas além-mar. Se Younge tinha em mente um si-batismo que teve curso, seria possível que os mensageiros fossem, de fato, enviados da parte de John Smyth e Thomas Helwys – embora não se tenha registro histórico de um episódio assim. É verdade que a referência ao arrependimento pelo [re]batismo, e eventualmente um possível si-batismo, é mais condizente com a biografia de Smyth, que meses depois, compungido de seu ato, pretendeu ingressar na igreja Menonita mediante novo batismo. Da mesma forma, a alusão a um “tesouro” perdido na viagem coincide com o financiamento da emigração de membros da igreja de Gainsborough (Lincolnshire) para a Holanda, que foi financiada por Thomas Helwys. Entretanto, a alusão ao emprego do termo “batismo” como fundamento de uma nova prática sugere que Younge tem em mente aqueles que argumentam em favor do batismo irmersivo, o que remeteria imediatamente aos Batistas Particulares. De fato, Younge se refere explicitamente aos “imersionistas” na segunda parte do tratado. Torna-se, assim, mais provável que se trate de uma alusão a Richard Blunt e “companheiro” não identificado pelo MS K.
Talvez a solução do dilema se encontre em um fenômeno bastante corrente na história dos homens, qual seja, a confusão e confluência de narrativas. Há uma grande possibilidade de que, ao nos aproximarmos da década de 1660, quando as igrejas batistas já estavam bem estabelecidas, as histórias sobre o batismo de John Smyth (circa 1608) e Richard Blunt (circa 1641) tenham se misturado, um resultado natural se considerarmos que a propaganda antibatista empregava quaisquer recursos à disposição para detratar o movimento. Mas merece nota o fato de que a Silésia não bate com os demais documentos e fatos sobre o assunto, o que nos abre uma interessante margem para pensar que, talvez, além – e até mesmo antes – de Blunt viajar à Holanda, uma outra comissão teria se dirigido à Silésia em busca de um ministrante legítimo do batismo imersivo. Esse evento precisaria ser alocado entre 1609-41, provavelmente. É difícil ser mais específico do que isso.
Conclusão
Na segunda parte do documento de Younge, ele oferece algumas reflexões sobre o poema. O trecho que nos interessa:
A palavra Batismo é um termo Ambíguo, acautele-se em como a compreende, ou faz qualquer aplicação particular dela.
Eles buscaram de cima abaixo no mundo por um Homem para batizá-los, mas não encontraram nenhum que não tivesse batizado a si mesmo.
Na Inglaterra havia alguns praticando a aspersão, mas aqueles Imersionistas, ao que me consta, rejeitaram Comunhão com eles baseados justamente nisso. Eles abandonaram as Assembleias, e se puseram dormentes, e então imaginaram um novo Evangelho, e um novo Cristo dentro deles, o Diabo o tire de mim, pois estou demasiadamente sob seu poder; então eles foram novamente trabalhar para conseguir Discípulos, e eu acho que eles conseguiram; pois eu sei, homens do interior, o que eu digo, que três quartos de vocês que hoje são afetados religiosamente, estão possuídos por aquela disposição que fará de vocês Quakers, se vocês não tiveram grande cautela.
(Idem, ibidem)
Um ponto que merece atenção é a afirmação constante do grande esforço desses homens por encontrar um administrador do sacramento que pertencesse a uma longa linhagem de batismo por imersão. Essa postura não condiz com a dos Batistas Particulares, que argumentaram consistentemente que o sacramento poderia ser restaurado a partir da simples ordenança das Escrituras. Tampouco se alinha bem à história conhecida dos Batistas Gerais, que não se pejaram também em proceder com o batismo no interior de sua própria congregação. O discurso parece muito mais um eco da crítica corrente que os pedobatistas lançaram aos batistas durante o período. De fato, os batistas se opuseram ao batismo ministrado no interior da Igreja da Inglaterra, afirmando-o inválido, mas não porque seus administradores eram ilegítimos, e sim porque a igreja era uma falsa igreja.
Chama atenção, também, que Younge tenha sugerido uma relação direta entre o caminho que conduz um homem a negar o batismo infantil e sua adesão ao espiritualismo Quaker. De fato, muitos batistas foram arrebatados pelo discurso Quaker, e as palavras de Younge refletem a mentalidade geral de que os batistas eram só mais uma das muitas seitas heterodoxas do período. Younge contribui, enfim, com a ideia, correntemente difundida, de que a imersão na Inglaterra tenha começado a partir de a) si-batismos ou b) batismos sem ministrante adequado. O documento abre ainda uma brecha para uma terceira viagem em busca do tal ministrante, para além das viagens de Smyth e Blunt à Holanda.
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BURRAGE, Champlin. The Restoration of Immersion by the English Anabaptists and Baptists (1640-1700). The American Journal of Theology, Vol. 16, No. 1 (Jan., 1912), pp. 70-89.
YOUNGE, Richard. Anti-Quakerism, or, A Character of the Quakers Spirit, from its Original and first cause. Londres, 1659.