Há pessoas que realmente se importam com o título de “reformado”. Isso se dá entre batistas, presbiterianos e reformados não denominacionais. É bastante visível, contudo, que essa disputa salomônica pela criança, isto é, pela grife, se aguçou deveras nas últimas décadas, na esteira — sem nenhuma coincidência — do crescente movimento batista reformado pelo mundo. Nunca antes os reformados se viram tão ciosos dessa alcunha. A “ameaça taxonômica” que os batistas confessionais lançaram sobre o universo reformado acendeu alertas e faróis sobre os usurpadores batistas. Recentemente, essa discussão foi reacendida, de forma prosaica e involuntária, por Luke Stamps que, no Twitter, afirmou: “Batistas não deveriam se identificar como ‘Reformados'”. O problema, se é que se trata de um problema, é que Luke Stamps é um batista de crescente influência e se alinha a um projeto que tem ganhado visibilidade nos tempos cada vez mais católicos e litúrgicos em que vivemos. Timothy George, patrono do movimento ao qual Stamps se filia, aproveitou a ocasião para se pronunciar, na plataforma do Desiring God, contrariando Stamps de forma irênica e indireta.
Neste post, que difere de todos os demais deste site por não abordar o assunto com citações extensas, na métrica do rigor acadêmico, compartilho impressões e ideias sobre o conceito de “batistas reformados” e seus usos.
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Disforia Confessional?
A tônica da tratativa reformada em relação aos “batistas reformados” é, inegavelmente, a da condescendência. Reformados de “alta prosápia” dialogam com batistas reformados como se sofressem de uma certa disforia confessional. Os pobres batistas se sentem “reformados”, se percebem “reformados”, identificam-se como “reformados”, mas não são, obviamente, reformados. Batistas que se autoidentificam reformados seriam um fenômeno tão moderno quanto o transgenerismo: a identidade batista em sua certidão de nascimento é a de um “anabatista”, ou “radical”; ele é um “não conformista nato” que escolheu passar por um processo traumático de redesignação confessional e, de repente, passou a se ver e se identificar como um reformado. Agora, exige que todos à sua volta respeitem sua autoidentificação e os tratem de forma condizente com ela.
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