A Assembleia de Westminster, a 1ª Confissão de Fé Batista de Londres (1644) e o curioso caso dos informantes Independentes; ou B. R. White vs Matthew Bingham: “orthodox” ou “radicals”?

É natural e compreensível que o movimento batista reformado conceda uma ênfase capital à Segunda Confissão de Fé de Londres (2CFL). Ela é, de fato, o documento medular do movimento em seu traçado teológico. Entretanto, do ponto de vista histórico, a Primeira Confissão de Fé de Londres (1CFL) é muito mais curiosa e instigante, apesar de receber uma atenção bem mais acanhada. Um estudo do contexto histórico que levou à formulação da 1CFL nos esclarece muito sobre sobre o movimento batista e sua identidade.

Tradicionalmente, a compreensão dos eventos que levaram à confecção da 1CFL se limitou aos dados fornecidos pelo próprio documento, por alguns de seus protagonistas e por uma contextualização mais geral do movimento separatista no século XVII. O exemplo mais bem formulado dessa apresentação foi composto por B. R. White, um dos maiores e mais argutos historiadores do movimento batista:

Os motivos por trás da publicação da Confissão de 1644 foram principalmente, e explicitamente, apologéticos, conforme foram descritos por seus signatários em seu prefácio. Eles frequentemente foram injustamente acusados, alegam, ‘tanto em Púlpito quanto em Prelo… de defender o Livre-arbítrio, a Perda da graça, de negar o pecado Original, rejeitar a Magistratura, negar-se a assisti-los, seja com pessoas ou recursos, em quaisquer de seus Mandamentos lícitos, de realizar atos indecorosos na administração da Ordenança do Batismo, [de] modo a não sermos tomados por Cristãos’. O efeito de tais calúnias foram de não apenas alienar as simpatias dos santos, mas de encorajar os ímpios, ‘se eles puderem encontrar os locais de nossas reuniões, a formarem bandos para nos apedrejar’. Consequentemente, os líderes de suas congregações determinaram publicar sua Confissão para manifestar sua concordância substancial com as formas predominantes da ortodoxia Calvinista. Ademais, eles anunciaram que a Confissão havia sido assinada pelos representantes escolhidos de sete congregações para evitar a suspeita de que ‘o que está aqui publicado possa ser o Julgamento senão de alguma Congregação individual, mais refinada do que as demais’.

Doctrine of the Church, p. 571.

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As raízes batavas e congregacionais do “half-way covenant”

O assunto é ligeiramente off-topic para os propósitos deste site, mas costuma circular com frequência na literatura batista, geralmente servindo como um exemplo das aporias do pedobatismo. Paul K. Jewett descreveu o problema do half-way covenant e de suas origens da seguinte forma:

[…] Os Puritanos, em Massachusetts, batizavam todas as crianças de cristãos professos. Assim, havia (como é sempre o caso nas comunidades Pedobatistas) um duplo tipo de membresia eclesiástica. Havia alguns que eram membros somente por batismo, aqueles nascidos de crentes professos; outros eram membros plenos da aliança, com direito a participar da comunhão, os quais eram eram nascidos de novo do Espírito de Cristo (daí a distinção entre membros “não-comungantes” e “comungantes” nos governos Presbiterianos e Reformados). Como resultado de tal arranjo, naturalmente aparecia, na segunda geração, pessoas adultas batizadas enquanto bebês que eram ortodoxos nas crenças e corretos em sua vida, embora não fizessem profissão de uma experiência pessoal da graça salvífica de Deus em seus corações e nunca chegassem à comunhão como membros plenos da igreja. Essas pessoas, compreensivelmente, não se consideravam pagãs e infiéis. Não estavam elas “na aliança”, e não tinham recebido o batismo como sinal da aliança? Por que, então, seus filhos deveriam ser privados do mesmo privilégio? Poderíamos colocar desta forma: Se Deus tem filhos (crentes) e netos (filhos de crentes), por que ele não pode ter bisnetos (filhos de filhos de crentes)?

Infant Baptism, pp.116-119.

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Andrew Ritor e a natureza espúria da Igreja da Inglaterra

Enquanto pouco se pode saber sobre a vida de Ritor, sua teologia é ilustrativa do pensamento aliancista, sacramental e eclesiológico dos Batistas Particulares.

Samuel Renihan, From Shadow to Substance, p.80.

*

Andrew Ritor, essa figura abantesma, é um de meus mais diletos autores entre os Batistas Particulares, em que pese sua linguagem idiossincrática. Juntamente com Christopher Blackwood, ele demonstra uma argúcia historiográfica ímpar, uma sensibilidade histórica singular e uma aplicação incomum no uso das referências. Em sua obra A Treatise of the Vanity of Childish Baptisme, temos uma das primeiras formulações de um aliancismo distintivamente batista. Meu interesse, entretanto, está em seu subtítulo: onde a deficiência do Batismo da Igreja da Inglaterra é considerada em cinco particulares. Como parte de um projeto muito maior, pretendo me debruçar nos próximos artigos sobre a relação entre os Batistas Particulares e a Igreja da Inglaterra. Vejamos o que Ritor tem a nos dizer sobre isso. Continuar lendo

Matthew Bingham, Christopher Blackwood e o problema da “identidade batista”

Como historiador, sou um entusiasta do trabalho de Matthew Bingham. A rigor, Bingham apenas coloca em prática, no estudo dos batistas do século XVII, alguns conceitos básicos para o ofício do historiador – o combate ao anacronismo, o desenho dos círculos de influência, a crítica conceitual etc. – e consegue oferecer, assim, um quadro bem mais realista do que aquele geralmente apresentado pelos teólogos que se aventuram pela história. Parte de seu esforço se concentra em apresentar os batistas como parte integrante do movimento congregacional, intimamente ligado aos Independentes. Mais do que isso, Bingham chega mesmo a questionar a validade das categorias de “Batista” e “Independente” para as décadas de 1640-50.

[…] Durante suas décadas iniciais e formativas, entre 1638 e 1660, os homens e mulheres rotulados de “Batistas Particulares” podem ser melhor compreendidos como congregacionalistas batistas¹ – uma identidade denominacional “Batista” só começaria a se solidificar após a Restauração.²

[…]

Talvez o uso mais antigo do termo “Batista” provenha de William Allen, um membro da congregação independente Arminiana de John Goodwin, em Londres, que deixou a igreja de Goodwin em 1653 para formar uma congregação batista em Lothbury. Em sua Answer to Mr. J[ohn] G[oodwin] (1653), Allen fez várias referências “aos Batistas”, frequentemente em contrastando-os diretamente “aos Pedobatistas”.

[…]

Entretanto, apesar da inauguração do termo durante os anos 1650, seguindo o uso do leigo William Allen, em 1653, nenhum ministro separatista parece ter aplicado o termo “Batista” a si mesmo até que o “Batista Geral” Thomas Grantham o fez em seu tratado de 1663, The Baptist Against the Papist.

Orhodox Radicals, pp. 39-42.

¹ No original, “baptistic congregationalists”. É o termo recorrente que Bingham procura emplacar, historiograficamente, para se referir aos batistas do século XVII.

² Isto é, 1660.

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